Vou contar a história da Ísis. Não fui eu que lhe dei o nome, mas mantive-o, por gostar dele. A Ísis cresceu numa casa, rodeada de gatos. Eram tantos, e de tal forma o seu número crescia, que um dia veio uma ordem de despejo do tribunal. Nesse dia foram retirados da casa onde a Ísis vivia 52 gatos, que foram encarcerados no canil do Porto. Entre eles a Ísis, grávida. A caminho do canil, abortou. Nos dois meses que esteve, junto com os outros, fechada numa box do canil, desenvolveu uma grave infecção mamária. A Ísis tornou-se apática, passou dois meses na mesma posição, perdeu pêlo.
Um dia chegaram as amigas que a levaram dali, bem como aos outros. Esterilizaram-na, trataram a sua doença e a ela com todo o carinho, como a todos os outros. O pêlo da Ísis voltou a crescer. Mas não a sua confiança nos seres humanos. Um dia a Ísis teve uma espécie de ataque epiláptico. A partir desse dia deixou de ser apática, para passar a fugir das pessoas, a bufar, a esconder-se. E alguém a pode culpar por isso? Do ponto de vista da Ísis, até aí nenhum ser humana merecera realmente a sua confiança. A Ísis passou de FAT em FAT (seis mudanças desde que foi levada para o canil até chegar a mim), abortou, ficou doente, foi arrancada ao que conhecia, a casa onde vivia amontoada com outros gatos, sabemos lá nós em que condições...
Então um dia a Cláudia contou-me a história desses 52 gatos. Eu tinha duas gatas, planeava ter mais, mas não achava ter as condições para tal naquele momento. No entanto a história desta gata que perdera a confiança nas pessoas não me deixou indiferente e, no dia 7 de Julho de 2004, fui buscá-la a casa da Tânia, sabendo de antemão que estava a assumir um compromisso difícil de cumprir. Apesar disso, nunca, em momento algum, a ideia de a devolver se as coisas corressem mal sequer me ocorreu.
No início a Ísis escondia-se, as minhas gatas bufavam-lhe, mas nos gatos a Ísis nunca perdeu a confiança, e lançou-se alegremente à tarefa de as conquistar. Apesar dos medos, o espírito da Ísis foi sempre naturalmente brincalhão. No espaço de quinze dias conquistou as minhas gatas. E no espaço de um mês ganhou alguma confiança, o suficiente para se deixar tocar, mas não pegar, muito menos para ser metida numa transportadora, por exemplo. Mas num mês ela progrediu a olhos vistos, como se pode ver pelo diário que ela escreveu no felinus.
Depois a minha vida mudou, tornou-se um pouco caótica, por razões pessoais e de doença. O ambiente tenso teve efeitos nas minhas gatas todas, mas na Ísis muito notoriamente. Ela regrediu muito, tornou-se arisca, medrosa, mais do que antes de vir para minha casa, e isso entristecia-me. Quando a minha vida tornou a acalmar, o ambiente tornou-se mais relaxado de novo, e um tratamento de três meses com um clamante teve um excelente resultado. Nesse espaço de tempo a Ísis reencontrou a calma perdida, tornou a permitir as festas, até o colo e, no dia dos meus anos, deu-me uma grande prenda: pata ante pata, veio deitar-se no meu colo enquanto eu via televisão com um aquecedor aos pés. E ali ficou relaxada e calma enquanto eu lhe fazia festas.
4 comentários:
Os gatos são apaixonantes, adorei ler este post, comoveu-me.
Beijinhos.
A Ísis é lindíssima e a história dela comoveu-me bastante (sobretudo, ouvir-te dizer que, apesar do que quer que acontecesse, nunca a devolverias depois da adopção... que é coisa que pouca gente faz!).
Muitos parabéns e felicidades para vocês!
Xana, tu consegues cortar as unhas à Isis? É que o trauma da Fátima ( a Castro) é não conseguir cortar as unhas à Sofia :)
No dia em que soube que a Ísis ia ter um lar definitivo nem acreditei! Até que conheci a Xana e vi que a gatinha ficaria bem entregue :) É uma alegria ter acompanhado toda a evolução dela e saber que agora até se derrete com a dona :D
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